Política
A política: é uma atividade orientada ideologicamente para a tomada de decisões de um grupo para alcançar determinados objetivos. Também pode ser definida como sendo o exercício do poder para a resolução de um conflito de interesses. A utilização do termo passou a ser popular no século V a.C., quando Aristóteles desenvolveu a sua obra intitulada precisamente “Política”.
Sócrates:
A política aristotélica é essencialmente unida à moral, porque o fim último do Estado é a virtude, isto é, a formação moral dos cidadãos e o conjunto dos meios necessários para isso. O Estado é um organismo moral, condição e complemento da atividade moral individual, e fundamento primeiro da suprema atividade contemplativa. A política, contudo, é distinta da moral, porquanto esta tem como objetivo o indivíduo, aquela a coletividade.
A ética é a doutrina moral individual. A política é a doutrina moral social. Dessa ciência trata Aristóteles precisamente na política, de que acima se falou. O Estado, então, é superior ao indivíduo, porquanto a coletividade é superior ao indivíduo, o bem comum superior ao bem particular. Unicamente no Estado efetua-se a satisfação de todas as necessidades, pois o homem, sendo naturalmente animal social, político, não pode realizar a sua perfeição sem a sociedade do estado.
"Em todas as artes e ciências", disse ele, "o fim é um bem, e o maior dos bens e bem em mais alto grau se acha principalmente na ciência todo-poderosa; esta ciência é a política, e o bem em política é a justiça, ou seja, o interesse comum; todos os homens pensam, por isso, que a justiça é uma espécie de igualdade, e até certo ponto eles concordam de um modo geral com as distinções de ordem filosófica estabelecidas por nós a propósito dos princípios éticos."
"Em todas as artes e ciências", disse ele, "o fim é um bem, e o maior dos bens e bem em mais alto grau se acha principalmente na ciência todo-poderosa; esta ciência é a política, e o bem em política é a justiça, ou seja, o interesse comum; todos os homens pensam, por isso, que a justiça é uma espécie de igualdade, e até certo ponto eles concordam de um modo geral com as distinções de ordem filosófica estabelecidas por nós a propósito dos princípios éticos."
O comportamento de Sócrates desencadeou em sua prisão, acusado por Mileto, Anito e Licon, de perverter a juventude e renegar os deuses cultuados pelos gregos, trocando-os por outros. Recebendo a oportunidade de advogar a seu favor, diante do tribunal e dos homens, ele se recusou, pois não pretendia renunciar ao que acreditava e ao que pregava a seus conterrâneos. Ele preferia ser condenado pela justiça terrena e preservar, diante da imortalidade, a verdade de sua alma. Assim, optou pela morte, decretada por seus juízes, através do voto da maioria.
Aristóteles
A política aristotélica é essencialmente unida à moral, porque o fim último do estado é a virtude, isto é, a formação moral dos cidadãos e o conjunto dos meios necessários para isso. O estado é um organismo moral, condição e complemento da atividade moral individual, e fundamento primeiro da suprema atividade contemplativa. A política, contudo, é distinta da moral, porquanto esta tem como objetivo o indivíduo, aquela a coletividade. A ética é a doutrina moral individual, a política é a doutrina moral social. Desta ciência trata Aristóteles precisamente na Política, de que acima se falou.O estado, então, é superior ao indivíduo, porquanto a coletividade é superior ao indivíduo, o bem comum superior ao bem particular. Unicamente no estado efetua-se a satisfação de todas as necessidades, pois o homem, sendo naturalmente animal social, político, não pode realizar a sua perfeição sem a sociedade do estado.Visto que o estado se compõe de uma comunidade de famílias, assim como estas se compõem de muitos indivíduos, antes de tratar propriamente do estado será mister falar da família, que precede cronologicamente o estado, como as partes precedem o todo. Segundo Aristóteles, a família compõe-se de quatro elementos: os filhos, a mulher, os bens, os escravos; além, naturalmente, do chefe a que pertence a direção da família. Deve ele guiar os filhos e as mulheres, em razão da imperfeição destes. Deve fazer frutificar seus bens, porquanto a família, além de um fim educativo, tem também um fim econômico. E, como ao estado, é-lhe essencial a propriedade, pois os homens têm necessidades materiais. No entanto, para que a propriedade seja produtora, são necessários instrumentos inanimados e animados; estes últimos seriam os escravos.Aristóteles não nega a natureza humana ao escravo; mas constata que na sociedade são necessários também os trabalhos materiais, que exigem indivíduos particulares, a que fica assim tirada fatalmente a possibilidade de providenciar a cultura da alma, visto ser necessário, para tanto, tempo e liberdade, bem como aptas qualidades espirituais, excluídas pelas próprias características qualidades materiais de tais indivíduos. Daí a escravidão.Vejamos, agora, o estado em particular. O estado surge, pelo fato de ser o homem um animal naturalmente social, político. O estado provê, inicialmente, a satisfação daquelas necessidades materiais, negativas e positivas, defesa e segurança, conservação e engrandecimento, de outro modo irrealizáveis. Mas o seu fim essencial é espiritual, isto é, deve promover a virtude e, conseqüentemente, a felicidade dos súditos mediante a ciência.Compreende-se, então, como seja tarefa essencial do estado a educação, que deve desenvolver harmônica e hierarquicamente todas as faculdades: antes de tudo as espirituais, intelectuais e, subordinadamente, as materiais, físicas. O fim da educação é formar homens mediante as artes liberais, importantíssimas a poesia e a música, e não máquinas, mediante um treinamento profissional. Eis porque Aristóteles, como Platão, condena o estado que, ao invés de se preocupar com uma pacífica educação científica e moral, visa a conquista e a guerra. E critica, dessa forma, a educação militar de Esparta, que faz da guerra a tarefa precípua do estado, e põe a conquista acima da virtude, enquanto a guerra, como o trabalho, são apenas meios para a paz e o lazer sapiente.Não obstante a sua concepção ética do estado, Aristóteles, diversamente de Platão, salva o direito privado, a propriedade particular e a família. O comunismo como resolução total dos indivíduos e dos valores no estado é fantástico e irrealizável. O estado não é uma unidade substancial, e sim uma síntese de indivíduos substancialmente distintos. Se se quiser a unidade absoluta, será mister reduzir o estado à família e a família ao indivíduo; só este último possui aquela unidade substancial que falta aos dois precedentes. Reconhece Aristóteles a divisão platônica das castas, e, precisamente, duas classes reconhece: a dos homens livres, possuidores, isto é, a dos cidadãos e a dos escravos, dos trabalhadores, sem direitos políticos.Quanto à forma exterior do estado, Aristóteles distingue três principais: a monarquia, que é o governo de um só, cujo caráter e valor estão na unidade, e cuja degeneração é a tirania; a aristocracia, que é o governo de poucos, cujo caráter e valor estão na qualidade, e cuja degeneração é a oligarquia; a democracia, que é o governo de muitos, cujo caráter e valor estão na liberdade, e cuja degeneração é a demagogia. As preferências de Aristóteles vão para uma forma de república democrático-intelectual, a forma de governo clássica da Grécia, particularmente de Atenas. No entanto, com o seu profundo realismo, reconhece Aristóteles que a melhor forma de governo não é abstrata, e sim concreta: deve ser relativa, acomodada às situações históricas, às circunstâncias de um determinado povo. De qualquer maneira a condição indispensável para uma boa constituição, é que o fim da atividade estatal deve ser o bem comum e não a vantagem de quem governa despoticamente.
Aristóteles começou a escrever suas teorias políticas quando foi preceptor de Alexandre, “O Grande”.
Para Aristóteles a Política é a ciência mais suprema, a qual as outras ciências estão subordinadas e da qual todas as demais se servem numa cidade. A tarefa da Política é investigar qual a melhor forma de governo e instituições capazes de garantir a felicidade coletiva.
Sêneca:
Lúcio Aneu Sêneca distingue o corpo da alma, o corpo é o que prende a alma e a alma é onde está o verdadeiro homem. Para que a alma se torne pura, ela tem que se libertar do corpo que é um peso que prende a alma nas coisas materiais. A alma tem uma parte racional e outra irracional. A parte irracional é dividida em duas, uma das paixões que é irascível e ambiciosa e outra humilde que é branda e que busca o prazer.
Na filosofia de Sêneca a consciência é a capacidade de conhecimento que o homem tem de distinguir entre o bem e o mal. As pessoas não podem livrar-se dessa capacidade, não conseguem esconder-se dela porque as pessoas não podem esconder-se de si mesmas. O criminoso pode evitar a punição da lei, mas não evita a punição de sua consciência que é um juiz que não perdoa ninguém.
O pecado está na estrutura e na fundamentação do homem. Para sermos homens precisamos pecar, se alguém nunca pecar, não é homem, mesmo o sábio é um pecador. Existe um constante contraste entre aquilo que o homem é e aquilo que o homem deveria ser. Essa hesitação entre ser uma coisa ou ser outra, em escolher entre o bem e o mal é algo exclusivo dos seres humanos.
Sêneca era contra a escravidão e contra as diferenciações sociais entre as pessoas. O que pode dar valor e nobreza a uma pessoa é somente a virtude e essa todos podem ter. Na sociedade o que define se alguém vai ser escravo ou um nobre é somente a sorte do nascimento. Em sua origem todos os homens eram iguais. A nobreza é uma construção de cada homem no desenvolvimento do seu espírito.
Devemos nos comportar com os nossos inferiores como gostaríamos que nossos superiores se comportassem conosco. O amor e a fraternidade é que deve fundamentar a relação entre as pessoas. Para ele a filosofia tem uma finalidade prática. O homem tem que conhecer a natureza e os seus fenômenos para perder o temor do mundo. Acreditava na predestinação dos homens que podem aceitar ou rejeitar seu destino, se aceitarem, podem viver em liberdade, se rejeitarem não terão uma vida livre.
Sentenças:
- Quem corre em um labirinto se confunde com a própria velocidade.
- Saber mais que os outros é fácil, difícil é saber melhor que os outros.
- Perdemos o dia esperando a noite e perdemos a noite esperando amanhecer.
- Os costumes começam como vícios.
- A verdadeira felicidade não é ter tudo, mas não desejar nada.
- Quem morre se adianta no caminho.
- Vemos melhor o sol quando ele está se pondo.
- A justiça tardia se parece muito com a injustiça.
- Se queres teus segredos guardados, guarda-os você mesmo.
- Quando não sabemos a que porto estamos indo, qualquer vento é favorável.
- De todos os dias da nossa vida, poucos dedicamos a nós mesmos.
- Pobre não é quem tem pouco, mas quem muito deseja.
- É inútil dar conselhos à um sábio e aconselhar um ignorante é perca de tempo.
- Quem é temido por muitos deve também temer a muitos.
- A paz é conveniente ao vencedor e necessária ao vencido.
- Sou homem e não considero estranho nada que é humano.
- Somos todos membros de um grande corpo.
- A divindade está perto de você, está contigo, está dentro de ti.Filósofo da Ética. Teve importante papel na vida pública, política do Império Romano. Foi conselheiro de Nero, orador, advogado e primeiro representante do estoicismo romano, escola filosófica voltada às questões morais. Suas idéias estavam centradas no desapego aos bens materiais, na busca pela tranqüilidade da alma, na aceitação serena do destino, na harmonia com a natureza e na brevidade da vida humana.
Ele nasceu em Córdoba, na Espanha, no ano 1 da Era Cristã, e chamava-se Sêneca.
Sêneca foi o filósofo mais conhecido e popular de sua época. Ele escreveu mais de 20 livros com conselhos práticos sobre rodos os aspectos da vida. Ele foi para Roma ainda menino e passou a maior parte da vida influenciando a política local como membro do senado. Mas nem por isso teve uma vida livre de frustrações. Ele era um homem melancólico por natureza, que havia sofrido de tuberculose na juventude e tinha surtos depressivos, quase suicidas. Ele viveu em uma época muito perigosa.
Sua carreira política foi construída durante uma série de governos de líderes tirânicos e imprevisível. Ele vivia, literalmente sem saber o dia de amanhã, pisando sobre terreno instável.
No ano 49 d.C., ele teve que assumir contra a vontade o cargo mais ingrato: O de tutor de um menino de 12 anos, LUCIUS DOMITIUS AHENOBARBUS, o futuro imperador Nero. Logo ficou claro que Nero era um psicopata, homicida. Sabendo que corria perigo, Sêneca tentou se afastar da corte por duas vezes, entregou ao imperador sua carta de demissão. Por duas vezes, ela foi recusada com um abraço, e o argumento de que Nero preferiria morrer a fazer mal a seu tutor. Nada do que Sêneca percebia estimulava-o a crer nessas palavras.
Ao conhecermos o palácio subterrâneo de Nero, começamos a entender porque Sêneca se preocupava tanto com a ira. Nero era um homem com poderes absolutos. As pessoas eram trazidas para as câmeras eram executadas em massa. Ele atirava romanos aos leões, decapitava-os, lançava-os aos crocodilos e desmembrava-os vivos. Virgens eram capturadas nas ruas e trazidas para o palácio para serem mortas. Gladiadores que não se saiam bem eram lançados aos lobos. Tudo isso acontecia nessas câmaras subterrâneas.
Vendo resultados tão tremendos da ira, Sêneca ficou desesperado para abrandá-la. Um imperador romano tomado pela ira não era só uma visão desagradável, mas um fenômeno potencialmente catastrófico.
Por experiência própria Sêneca considera a ira um problema grave. Ele chegou a dedicar um livro inteiro, da Ira, a esse tema. “A mais terrível e furiosa das emoções”, ele escreveu. Mas recusava-se a vê-la como uma explosão irracional e incontrolável.
Que tipo de coisa deixa você irritado?
Eu fico bastante irritada no trânsito.
Para Sêneca, a ira era um problema filosófico que podia ser tratado pela argumentação filosófica. A ira surgia de certas idéias racionalizadas sobre o mundo. E o problema delas era ser otimista demais. Na visão de Sêneca as pessoas ficam com raiva porque criam muitas expectativas.
Num ataque de ira, sentimo-nos surpresos e injustiçados. O que Sêneca diria é que, por exemplo, que as confusões e barbeiragens no trânsito não são injustas, nem surpreendentes, mas um fato previsível da vida. Quem se irrita com elas tem expectativas erradas em relação ao mundo. Assim, seu primeiro conselho era que fôssemos mais pessimistas, para ajustar nossa visão de mundo aos reveses da vida. Quem se irrita com elas tem expectativas erradas em relação ao mundo. Assim, seu primeiro conselho era que fôssemos mais pessimistas, para ajustar nossa visão de mundo aos reveses da vida. E ele nos pede para ter mais uma coisa em mente: se aceitarmos que nada pode ser feito quanto às nossas frustrações, não vamos nos descontrolar tanto quanto elas acontecerem.
Sêneca diz um dos motivos para nossa raiva é imaginarmos que as coisas sempre têm de ser como queremos, que somos capazes de moldar o mundo segundo nossos desejos, mas não são. Há muitas coisas que temos de aceitar. Nem sempre temos liberdade para mudá-las. Para tentar nos fazer compreender isso, para criar uma imagem clara, Sêneca fez uma comparação inusitada: Ele disse que nós somos, basicamente, como cães amarrados a uma carroça em movimento. A coleira é longa o bastante para nos dar alguma liberdade, mas não para permitir que cada um vá para onde quiser. O cão logo se dá conta que para ser feliz, ele precisa, algumas vezes, se contentar em seguir a carroça. È bem melhor segui-la para onde você não quer ir do que se debater contra algo que não podemos mudar. Porque, além de ir para onde não quer, você vai acabar se estrangulando.
Mas levamos uma vantagem sobre os animais: somos dotados de razão. Essa razão nos dá um triunfo: a capacidade de perceber o que podemos e o que não podemos mudar. Talvez não possamos alterar certos acontecimentos, mas podemos mudar nossa atitude com relação a eles. Era essa capacidade, para Sêneca, que conferia a liberdade que nos distingue como humano.
Mas Sêneca não é útil apenas em nossos momentos de fúria. Sua filosofia nos dá um meio de ficarmos calmos e controlados diante de qualquer adversidade. Quem teve a oportunidade de conhecer Pompéia ou assistir algum filme, poderá ter uma idéia da vida que Sêneca levava. Ele foi um homem rico e podemos cair na armadilha de imaginar que ele e outros patrícios levavam uma vida fácil e tranqüila. Mas basta ler Sêneca para descobrir que essa imagem está errada. Em meio ao luxo, a aristocracia romana fervilhava de fúria.
Sêneca fez uma análise interessante da ira, observando o mundo a sua volta, ele flanava pela alta sociedade de Roma imperial. Muitos de seus amigos tinham enormes casa de campo, com escravos para preparar a comida, banquetes que entravam noite adentro. Ele fez uma constatação surpreendente: a riqueza torna as pessoas mais cheias de raiva, e não mais calmas. “A prosperidade alimenta o destempero”.
Sêneca conheceu um certo Vedius Pollio, alto funcionário do governo, que certa vez deu uma festa. Um escravo encarregado de uma bandeja com copos teve o azar de tropeçar e derrubar a bandeja. Vidius Pollio ficou tão furioso que mandou atirar o escravo num tanque cheio de lampreias, para que fosse devorado vivo. O que aconteceu na análise de Sêneca foi que Vidius Pollio vivia num mundo onde copos não se quebravam.
O filósofo concluiu que o problema dos ricos como Vedius é que eles tinham expectativas absurdas. O mesmo pode ser dito dos ricos atuais. Basta observar o check-in da 1ª classe de uma companhia aérea e ver como as pessoas falam mais alto, do que na fila de classe econômica. Quanto mais rico você for, mais expectativas tende a ter. Quando elas são frustradas, a fúria emerge. Os ricos acreditam que o dinheiro vai protegê-los de reveses e frustrações, e essa é a expectativa mais absurda de todos.
A filosofia de Sêneca não é importante só para os irritados. Ele achava que todos nós reagimos mal às frustrações e só teríamos a ganhar se reduzíssemos nossas expectativas. Ele achava que o mais estressante é o que nos pega de surpresa. Que nos irritamos mais com os problemas que surgem quando menos esperamos. Se você admitir que as coisas possam dar erradas quando as coisas acontecerem, você já está preparada. Ele dizia que a melhor forma de combater a raiva é estar preparado e aconselha-nos a fazer isso.
Costumamos confrontar as pessoas dizendo que “tudo vai ficar bem”. Para Sêneca, essas palavras de suposto apoio podem ser cruéis, pois deixam as pessoas desesperadas para situações adversas. Ele recomenda a estratégia oposta: uma reflexão tranqüila, mas diário sobre tudo o que pode dar errado. A idéia é estruturar o pensamento que às vezes nos ocorrem, refletindo sobre elas toda manhã.
Sêneca não proíbe as pessoas de esperar que as coisas funcionassem bem, ele só gostaria de vê-la preparada psicologicamente para o contrário. Ele achava que, muitas vezes superestimamos nossa capacidade de mudar os acontecimentos, de rever situações frustrantes.
Foi para nos relembrar constantemente de quantas coisas estão fora do nosso controle que ele evocou a ajuda de uma deusa. O nome dela era Fortuna e estava representada em muitas moedas romanas. Havia também estátuas suas pela Itália. Ela apreciava dois objetos: em uma das mãos, uma cornucópia, como símbolo de seu poder de conceder favores. Nessa cornucópia, havia muitas das boas coisas da vida. Mas fortuna tinha também um objeto mais sinistro, um leme como símbolo de seu poder de desviar nossos destinos. Num rompante de crueldade, como lhe era freqüente, bastava um toque no leme para ela destruir nossas vidas, levar nossos empregos e nos causar imensa dor de cabeça.
Fortuna simboliza as coisas que devemos aceitar, as boas e as ruins. Quando algo sai errado, não devemos gritar e praguejar, mas lembra que muitas frustrações são caprichos cruéis de uma deusa cujos atos não podemos mudar.
A maior parte dos habitantes de Pompéia, uma cidadezinha aos pés do Vesúvio, acreditava ter controle sobre o próprio destino. Mas, talvez, o lembrete mais duro dos limites de nosso controle sejam as forças da natureza. Ao meio-dia de 13 de agosto de 79 d.C, eles iriam descobrir que Fortuna tinha planos para a cidade. Em questão de horas, Pompéia foi soterrada por cinzas vulcânicas, uma demonstração terrível e clara da tese de Sêneca: nunca estamos a salvo da deusa Fortuna. Mesmo quando tudo parece tranqüilo, pode sobrevir o desastre. A melhor maneira de nos protegermos é estarmos preparados psicologicamente.
Tendemos a achar que o legado mais importante dos filósofos são os livros que escreveram onde todo o talento e sabedoria estão concentrados. Mas os antigos agarravam-se à crença mais abrangente de que também devemos buscar inspiração, nos momentos de necessidade na forma com os filósofos levam suas vidas e como morriam.
Foi no instante de sua morte que Sêneca se mostrou mais inspirador. A cena foi reproduzida infinitamente desde então. Em abril de 65 d.C. foi descoberta uma conspiração contra Nero na qual Sêneca acabou incriminado, embora provavelmente fosse inocente. Nero enviou um centurião à residência do filósofo, para ordenar que ele se matasse imediatamente. Quando os amigos e familiares souberam da sentença, caíram em prantos. Mas Sêneca não chorou. Foi sua atitude diante da desgraça que ajudou a definir o que ele queria dizer, ao afirmar que devemos ver as coisas filosoficamente. Calmamente, ele pegou uma faca e cortou os próprios pulsos. Sêneca morreu da maneira como nos aconselhava a viver.
“Por que chorar por fatos da vida quanto toda ela é motivo de lágrimas?”
Com sorte, nada de tão terrível irá ocorrer conosco, mas coisas ruins podem acontecer, e a melhor maneira de amenizar os golpes, se eles vierem, é estarmos preparados.
Ira e frustração são essencialmente, reações irracionais e aos reveses, e a única estratégia racional é manter-se calmo diante da constatação de que algumas coisas dão errado. Dessa maneira, estaremos agindo no mais verdadeiro e melhor sentido do termo, filosoficamente.
Sêneca foi o filósofo mais conhecido e popular de sua época. Ele escreveu mais de 20 livros com conselhos práticos sobre rodos os aspectos da vida. Ele foi para Roma ainda menino e passou a maior parte da vida influenciando a política local como membro do senado. Mas nem por isso teve uma vida livre de frustrações. Ele era um homem melancólico por natureza, que havia sofrido de tuberculose na juventude e tinha surtos depressivos, quase suicidas. Ele viveu em uma época muito perigosa.
Sua carreira política foi construída durante uma série de governos de líderes tirânicos e imprevisível. Ele vivia, literalmente sem saber o dia de amanhã, pisando sobre terreno instável.
No ano 49 d.C., ele teve que assumir contra a vontade o cargo mais ingrato: O de tutor de um menino de 12 anos, LUCIUS DOMITIUS AHENOBARBUS, o futuro imperador Nero. Logo ficou claro que Nero era um psicopata, homicida. Sabendo que corria perigo, Sêneca tentou se afastar da corte por duas vezes, entregou ao imperador sua carta de demissão. Por duas vezes, ela foi recusada com um abraço, e o argumento de que Nero preferiria morrer a fazer mal a seu tutor. Nada do que Sêneca percebia estimulava-o a crer nessas palavras.
Ao conhecermos o palácio subterrâneo de Nero, começamos a entender porque Sêneca se preocupava tanto com a ira. Nero era um homem com poderes absolutos. As pessoas eram trazidas para as câmeras eram executadas em massa. Ele atirava romanos aos leões, decapitava-os, lançava-os aos crocodilos e desmembrava-os vivos. Virgens eram capturadas nas ruas e trazidas para o palácio para serem mortas. Gladiadores que não se saiam bem eram lançados aos lobos. Tudo isso acontecia nessas câmaras subterrâneas.
Vendo resultados tão tremendos da ira, Sêneca ficou desesperado para abrandá-la. Um imperador romano tomado pela ira não era só uma visão desagradável, mas um fenômeno potencialmente catastrófico.
Por experiência própria Sêneca considera a ira um problema grave. Ele chegou a dedicar um livro inteiro, da Ira, a esse tema. “A mais terrível e furiosa das emoções”, ele escreveu. Mas recusava-se a vê-la como uma explosão irracional e incontrolável.
Que tipo de coisa deixa você irritado?
Eu fico bastante irritada no trânsito.
Para Sêneca, a ira era um problema filosófico que podia ser tratado pela argumentação filosófica. A ira surgia de certas idéias racionalizadas sobre o mundo. E o problema delas era ser otimista demais. Na visão de Sêneca as pessoas ficam com raiva porque criam muitas expectativas.
Num ataque de ira, sentimo-nos surpresos e injustiçados. O que Sêneca diria é que, por exemplo, que as confusões e barbeiragens no trânsito não são injustas, nem surpreendentes, mas um fato previsível da vida. Quem se irrita com elas tem expectativas erradas em relação ao mundo. Assim, seu primeiro conselho era que fôssemos mais pessimistas, para ajustar nossa visão de mundo aos reveses da vida. Quem se irrita com elas tem expectativas erradas em relação ao mundo. Assim, seu primeiro conselho era que fôssemos mais pessimistas, para ajustar nossa visão de mundo aos reveses da vida. E ele nos pede para ter mais uma coisa em mente: se aceitarmos que nada pode ser feito quanto às nossas frustrações, não vamos nos descontrolar tanto quanto elas acontecerem.
Sêneca diz um dos motivos para nossa raiva é imaginarmos que as coisas sempre têm de ser como queremos, que somos capazes de moldar o mundo segundo nossos desejos, mas não são. Há muitas coisas que temos de aceitar. Nem sempre temos liberdade para mudá-las. Para tentar nos fazer compreender isso, para criar uma imagem clara, Sêneca fez uma comparação inusitada: Ele disse que nós somos, basicamente, como cães amarrados a uma carroça em movimento. A coleira é longa o bastante para nos dar alguma liberdade, mas não para permitir que cada um vá para onde quiser. O cão logo se dá conta que para ser feliz, ele precisa, algumas vezes, se contentar em seguir a carroça. È bem melhor segui-la para onde você não quer ir do que se debater contra algo que não podemos mudar. Porque, além de ir para onde não quer, você vai acabar se estrangulando.
Mas levamos uma vantagem sobre os animais: somos dotados de razão. Essa razão nos dá um triunfo: a capacidade de perceber o que podemos e o que não podemos mudar. Talvez não possamos alterar certos acontecimentos, mas podemos mudar nossa atitude com relação a eles. Era essa capacidade, para Sêneca, que conferia a liberdade que nos distingue como humano.
Mas Sêneca não é útil apenas em nossos momentos de fúria. Sua filosofia nos dá um meio de ficarmos calmos e controlados diante de qualquer adversidade. Quem teve a oportunidade de conhecer Pompéia ou assistir algum filme, poderá ter uma idéia da vida que Sêneca levava. Ele foi um homem rico e podemos cair na armadilha de imaginar que ele e outros patrícios levavam uma vida fácil e tranqüila. Mas basta ler Sêneca para descobrir que essa imagem está errada. Em meio ao luxo, a aristocracia romana fervilhava de fúria.
Sêneca fez uma análise interessante da ira, observando o mundo a sua volta, ele flanava pela alta sociedade de Roma imperial. Muitos de seus amigos tinham enormes casa de campo, com escravos para preparar a comida, banquetes que entravam noite adentro. Ele fez uma constatação surpreendente: a riqueza torna as pessoas mais cheias de raiva, e não mais calmas. “A prosperidade alimenta o destempero”.
Sêneca conheceu um certo Vedius Pollio, alto funcionário do governo, que certa vez deu uma festa. Um escravo encarregado de uma bandeja com copos teve o azar de tropeçar e derrubar a bandeja. Vidius Pollio ficou tão furioso que mandou atirar o escravo num tanque cheio de lampreias, para que fosse devorado vivo. O que aconteceu na análise de Sêneca foi que Vidius Pollio vivia num mundo onde copos não se quebravam.
O filósofo concluiu que o problema dos ricos como Vedius é que eles tinham expectativas absurdas. O mesmo pode ser dito dos ricos atuais. Basta observar o check-in da 1ª classe de uma companhia aérea e ver como as pessoas falam mais alto, do que na fila de classe econômica. Quanto mais rico você for, mais expectativas tende a ter. Quando elas são frustradas, a fúria emerge. Os ricos acreditam que o dinheiro vai protegê-los de reveses e frustrações, e essa é a expectativa mais absurda de todos.
A filosofia de Sêneca não é importante só para os irritados. Ele achava que todos nós reagimos mal às frustrações e só teríamos a ganhar se reduzíssemos nossas expectativas. Ele achava que o mais estressante é o que nos pega de surpresa. Que nos irritamos mais com os problemas que surgem quando menos esperamos. Se você admitir que as coisas possam dar erradas quando as coisas acontecerem, você já está preparada. Ele dizia que a melhor forma de combater a raiva é estar preparado e aconselha-nos a fazer isso.
Costumamos confrontar as pessoas dizendo que “tudo vai ficar bem”. Para Sêneca, essas palavras de suposto apoio podem ser cruéis, pois deixam as pessoas desesperadas para situações adversas. Ele recomenda a estratégia oposta: uma reflexão tranqüila, mas diário sobre tudo o que pode dar errado. A idéia é estruturar o pensamento que às vezes nos ocorrem, refletindo sobre elas toda manhã.
Sêneca não proíbe as pessoas de esperar que as coisas funcionassem bem, ele só gostaria de vê-la preparada psicologicamente para o contrário. Ele achava que, muitas vezes superestimamos nossa capacidade de mudar os acontecimentos, de rever situações frustrantes.
Foi para nos relembrar constantemente de quantas coisas estão fora do nosso controle que ele evocou a ajuda de uma deusa. O nome dela era Fortuna e estava representada em muitas moedas romanas. Havia também estátuas suas pela Itália. Ela apreciava dois objetos: em uma das mãos, uma cornucópia, como símbolo de seu poder de conceder favores. Nessa cornucópia, havia muitas das boas coisas da vida. Mas fortuna tinha também um objeto mais sinistro, um leme como símbolo de seu poder de desviar nossos destinos. Num rompante de crueldade, como lhe era freqüente, bastava um toque no leme para ela destruir nossas vidas, levar nossos empregos e nos causar imensa dor de cabeça.
Fortuna simboliza as coisas que devemos aceitar, as boas e as ruins. Quando algo sai errado, não devemos gritar e praguejar, mas lembra que muitas frustrações são caprichos cruéis de uma deusa cujos atos não podemos mudar.
A maior parte dos habitantes de Pompéia, uma cidadezinha aos pés do Vesúvio, acreditava ter controle sobre o próprio destino. Mas, talvez, o lembrete mais duro dos limites de nosso controle sejam as forças da natureza. Ao meio-dia de 13 de agosto de 79 d.C, eles iriam descobrir que Fortuna tinha planos para a cidade. Em questão de horas, Pompéia foi soterrada por cinzas vulcânicas, uma demonstração terrível e clara da tese de Sêneca: nunca estamos a salvo da deusa Fortuna. Mesmo quando tudo parece tranqüilo, pode sobrevir o desastre. A melhor maneira de nos protegermos é estarmos preparados psicologicamente.
Tendemos a achar que o legado mais importante dos filósofos são os livros que escreveram onde todo o talento e sabedoria estão concentrados. Mas os antigos agarravam-se à crença mais abrangente de que também devemos buscar inspiração, nos momentos de necessidade na forma com os filósofos levam suas vidas e como morriam.
Foi no instante de sua morte que Sêneca se mostrou mais inspirador. A cena foi reproduzida infinitamente desde então. Em abril de 65 d.C. foi descoberta uma conspiração contra Nero na qual Sêneca acabou incriminado, embora provavelmente fosse inocente. Nero enviou um centurião à residência do filósofo, para ordenar que ele se matasse imediatamente. Quando os amigos e familiares souberam da sentença, caíram em prantos. Mas Sêneca não chorou. Foi sua atitude diante da desgraça que ajudou a definir o que ele queria dizer, ao afirmar que devemos ver as coisas filosoficamente. Calmamente, ele pegou uma faca e cortou os próprios pulsos. Sêneca morreu da maneira como nos aconselhava a viver.
“Por que chorar por fatos da vida quanto toda ela é motivo de lágrimas?”
Com sorte, nada de tão terrível irá ocorrer conosco, mas coisas ruins podem acontecer, e a melhor maneira de amenizar os golpes, se eles vierem, é estarmos preparados.
Ira e frustração são essencialmente, reações irracionais e aos reveses, e a única estratégia racional é manter-se calmo diante da constatação de que algumas coisas dão errado. Dessa maneira, estaremos agindo no mais verdadeiro e melhor sentido do termo, filosoficamente.
Cícero:
Orador, político e filósofo romano (03/01/106-07/12/43 a. C.). Nasce em Arpino (atual Itália), uma cidade numa colina, 100 quilómetros a sul de Roma. Por isso, ainda que fosse um grande mestre de retórica e composição Latina, Cícero não era "Romano" no sentido tradicional, e sempre se sentiu envergonhado disto durante toda a sua vida.
Muito jovem, se mudou para Roma, onde frequentou aulas de oradores famosos e juristas. Após o serviço militar breve e três anos de experiência como advogado viaja para a Grécia e Ásia, onde continuou seus estudos. Ele voltou a Roma em 77 aC, e começou sua carreira política.
Em 74 aC, foi eleito para o Senado. Apoiado pelos patrícios em sua candidatura para o consulado em 64 aC contra o outro candidato, Lucio Sergio Catilina. Derrotado por Cícero, Catilina tentou novamente no ano seguinte, com os mesmos resultados, revoltado Catilina organizou uma conspiração para derrubar o governo.
Cícero para contornar a situação, mandou prender e executar os partidários de Catilina. Por conta disso foi criticado por Júlio César e outros senadores romanos que o acusaram de ter agido de forma precipitada, sem o devido processo legal. Foi então exilado em 58 aC.
Passou um ano exilado na Macedônia, para então ser perdoado pelo general romano Pompeu, o Grande. Até o ano 51 aC se dedicou à literatura, em seguida aceitou a responsabilidade de governar a província romana da Cilícia, como pro cônsul. Um ano mais tarde ele retornou a Roma, e aliou-se a Pompeu, que havia se tornado o maior inimigo de Júlio César.
Entre suas obras estão De Legibus (Das leis), De Officiis, e Laelius de Amicitia (Diálogo Sobre a Amizade). As mais famosas de suas obras são as que escreveu contra Catilia, conhecidas com Catilinarias, e as que escreveu contra Marco Antônio chamadas Filípicas.
Na esperança de ver a restauração da República, apoiou Otaviano e mais tarde o imperador Augusto em sua luta contra o cônsul romano Marco Antônio. O que ele não esperava era a reconciliação entre Otaviano e Marco António, o que o levou a ser executado como inimigo do Estado em 7 de dezembro de 43 aC em Formia.
Algumas de suas Obras
- De Re Publica (Da República)
- De Legibus (Das leis)
- Laelius de Amicitia (Diálogo Sobre a Amizade)
- De Oratore
- De Officiis
- Tusculanae Quaestiones
- Cato Maior de Senectute
Virgílio:O célebre poeta romano Virgílio nasceu na cidade de Andes, próxima a Mântua, no dia 15 de outubro de 70 a.C., no seio de uma família rural, e foi batizado como Publius Vergilius Maro.
Através do matrimônio, o imortal poeta latino alcançou a segurança financeira necessária para estudar filosofia e retórica com os melhores professores, primeiro em Cremona, depois em Milão e posteriormente no grande centro intelectual, em Roma, cidade que lhe permitiu o convívio com as mais refinadas inteligências da época. Neste período ele se tornou protegido de Mecenas, travou amizade com Horácio e teve contato com o Imperador Augusto, recebendo dele todo estímulo para criar sua obra-prima, a Eneida.
Virgílio escreveu Bucólicas ou Éclogas, uma série de dez poemas que traduzem sua paixão pela produção pastoril de Teócrito de Siracusa, que viveu no século 3 a.C. Este livro foi elaborado aproximadamente entre 42 e 38 a.C. As quatro Geórgicas foram criadas em 29 a.C., para homenagear Mecenas, seu financiador, nas quais ele glorifica a Itália e enfoca educacionalmente aspectos como a lavoura, a avicultura e a apicultura; sua obra eterna, a Eneida, foi produzida logo depois.
Nas Geórgicas o poeta insere, em meio a um tratado sobre a agricultura, conotações políticas, pois elogiando a esfera rural ele exalta a vida campestre, realizando uma apologia do ideário defendido pelo Império, a quem convém honrar os camponeses e seus meios de sobrevivência. Esta obra apresenta traços que lembram Hesíodo e Lucrécio, autores admirados por Virgílio. Ao lado da Eneida, ela é vista pelos estudiosos como seu trabalho mais apurado no estilo literário.
Sua produção mais célebre, porém, é a Eneida, que lhe permitiu ser respeitado, ainda vivo, como o maior autor latino e a mais importante expressão poética romana. Ele subverteu, com seus versos poderosos e densos, a epopéia e a tragédia gregas. Sua imaginação não tem limites e os aspectos linguísticos são diversificados e preciosos, enquanto os temas religiosos e morais enfocados pelo autor são tão complexos que vêm desafiando a compreensão de estudiosos ao longo do tempo.
Embora se destaquem nesta obra os valores épicos, é impossível não perceber o tom de tristeza que permeia seus versos, enfatizando o eterno sentimento de perda que devasta a alma humana. A Eneida atendia naquele momento as necessidades de uma civilização que por dez anos estivera mergulhada em intensa agitação, e agora precisava se auto-afirmar.
Este clássico descreve a jornada do troiano Enéas, fugitivo da Guerra de Tróia, guiado pelos deuses até o território italiano, onde edifica a cidade de Roma. Trata-se, portanto, de uma elegia ao imperador Augusto, pois a obra confere aos romanos uma linha de antepassados essencialmente latinos, ao mesmo tempo em que destaca uma procedência divina.
Sua obra ficou incompleta, pois o poeta morreu antes de aperfeiçoá-la ainda mais; dizem que o autor exigiu, antes da morte, que seus textos fossem queimados, pois não queria que eles ficassem inacabados. Pouco antes de seu falecimento, ele apresentara parte de seu clássico à família do Imperador, em 23 a.C. Virgílio morreu justamente quando voltava da viagem de seus sonhos, pela Grécia, onde finalmente entrou em contato com a vida cultural helênica que tanto admirava. Ele morreu em Brindisi, no dia 21 de setembro de 19 a.C., e está enterrado em Nápoles.
Platão:
A,oral do homem platônico é uma moral sobretudo política. Este tipo de concepção de Platão se deu devido o fato de sua juventude ter sido marcada pelo Fenômeno conhecido como "polís", ou seja, o homem para Platão é o cidadão, que vive e participa da sociedade política.
Portanto a política sempre ocupar[a um lugar de destaque na vida do filósofo: "... passei por experiência comum a muitos e me decidi firmemente a uma coisa: apenas em condição de dispor da minha vontade, logo dedicar-me à vida política"
O contexto em que viveu Platão foi um contexto onde a corrupção, não somente na cidade de Atenas, mas em todas as cidades do mundo grego. Este tipo de corrupção a liado a uma injustiça crescente da vida política de Atenas, contribuíram para que Platão fomentasse dentro de si o desejo de propor uma nova forma e concepção política, onde a justa medida, governasse a vida de todos os cidadão da pólis.
O estopim para o caminho do amadurecimento político da filosofia de Platão, se deu sem dúvida nenhuma, após o episódio da morte de seu mestre Sócrates. Este fato coloca Platão diante de um dilema, se os governantes mataram aquele que era o mais justo, ou pelo menos aquele que possuía um diferencial significativa em relação aos outros cidadão, quem então poderá ser considerado um administrador dignos e que não seja corrupto?
Platão começa a pesquisar e observar as ações das pessoas no cenário político, evidenciando assim, todo o quadro de complexidade que envolve a administração da pólis.
O caminho que o filósofo encontra para mudança da concepção política de sua época, é a reformulação de todas as constituições e legislações que regiam a própria pólis. Desta maneira Platão não pretendia curar a doença da corrupção e da injustiça, através de medicações paliativas, mas pretendia solucionar o problema em sua origem, propondo uma nova base para todo o assentamento político que os novos governadores teriam de trabalhar.
O caminho que Platão colocará para um reta orientação da administração da pólis, através de um meio mais justo e que não exista a corrupção, é o caminho da filosofia, isto é, a filosofia possibilitará que o administrador público seja mais coerente com suas ações e possa se orientar por uma norma que o guie tranqüilamente pela tumultuada vida política.
Os únicos em condições para assumir o poder para Platão são os filósofos, pois estes, são os únicos capazes de entender e se guiar pela justa medida, desta maneira o que se coloca para o administrador acima de tudo é a sapiência, este munido dos recursos que a filosofia
A nova política platônica e o novo Estado deverão ter seu instrumento na filosofia, porque ela representa o único caminho seguro de acesso aos valores de justiça e de bem, que são o fundamento verdadeiro de toda política autêntica e, portanto, do verdadeiro Estado.
A teoria do Estado Platônico tem seguido ou o caminho utópico da descrição do Estado perfeito, ou aquele mais realista das maneiras e dos caminhos para melhorar a forma do Estado.
Platão por isso, em Górgias não hesita e põe na boca de Sócrates este desafio:- "Eu creio que estou entre os poucos atenienses, para não dizer o único, que tentam a verdadeira arte política, e o único entre os que agora vivem, que a exercita"
Platão estava convicto de que o Verdadeiro e o Bem contemplados devessem descer à realidade com o fim de torná-la melhor, devessem tornar-se politicamente efetiva.
Para ele, toda forma de política que pretenda ser autêntica deve ter em vista o bem do cidadão; mas, é preciso saber que o verdadeiro bem do homem é o Bem Espiritual. Enquanto o corpo é apenas seu casulo passageiro e fenomênico.
É nesta base que se diferencia a política verdadeira da falsa: a verdadeira política deve ter em vista o cuidado da alma (verdadeiro homem), enquanto a falsa tem em vista o corpo, o prazer do corpo e tudo que é relativo à dimensão "inautêntica do homem". E o meio para curar a alma não é senão a filosofia, e por conseqüência, a identificação com política e a filosofia. Isto no contexto platônico, de político e filósofo.
Esta concepção da dicotomia de corpo e alma se evidencia através de sua teoria do mundo das idéias, pois segundo ela o ideal perfeito esta num mundo inacessível, devido a limitação que matéria impõe, enquanto que neste mundo a imperfeito, somente serve de cárcere da alma. Desta maneira devemos buscar nos assemelhar ao máximo possível deste mundo de perfeição, que é mundo das idéias.
Esta ilustração serve a nós para entender o porque na concepção política de Platão o filósofo será o único em condições de administrar bem a cidade, pois esmo que ele seja limitado pela matéria, que é o seu corpo ele será conduzido pela filosofia a uma aproximação mais efetiva da idéia de justiça, podendo desta maneira tratar mais justamente os problemas de todos os cidadão proporcionado assim, uma vida mais digna a todos os que habitam a pólis.
Estado e a lei do Estado, constituía todo o paradigma de toda forma de vida do indivíduo, portanto o que era importante para o homem grego era ser um cidadão, pois somente nesta condição a sua virtude de homem será capaz de se manifestar, pois ser cidadão implica na participação da pólis, desde a tomada de decisões até a forma pela qual eram estabelecidas as leis que regiam a mesma. Portando a participação da pólis não era horizonte relativo, mas sim o horizonte absoluto da vida do homem.
Transferindo para a nossa atualidade o realismo político de Platão vai colocar em destaque a inversão de um idealismo traçado pelo filósofa ateniense, pois, é inegável de se descartar que diferentemente da concepção política platônica o indivíduo e o cidadão não é mais a mesma pessoa. Na Grécia o indivíduo somente tinha razão de ser, caso ele fosse um cidadão, pois desta maneira ele, se faria participante e integrante da vida da pólis, ao passo que o indivíduo de hoje, pode deixar de participar da vida política da cidade e não ser colocada para ele a questão da sua importância no processo político. O Estado renunciou há muito à apropriação das esferas da vida interior dos cidadãos que interessavam a Platão acima de tudo, deixando à consciência dos indivíduos a livre decisão nesses assuntos.
Pode-se percebem que o pensamento político não mudou pois ele requer para o seu dinamismo uma participação seja de qualquer tipo de esfera, agora o modo de como se dá a importância para o cidadão que existia na pólis grega e o indivíduo que existe na modernidade são impares e não se encontra caminhos de restaurar novamente esta mesma dignidade a que o homem tem direito, ou seja não se pode deixar de levar em consideração que a participação da vida da pólis era o que dava significada a vida do homem no coletivo, e hoje esta participação não coloca este mesmo significado ma vida do indivíduo moderno.
Já no âmbito da concepção histórica de Platão, este, estava condicionado em dois sentidos: pelos pressupostos do seu sistema e por determinada visão histórico – social - cultural do Estado, nenhuma nem outra podem repetir-se historicamente. Entretanto, Platão nos alertou quanto a verdade que hoje serve como advertência: uma política que, ao regular a vida em sociedade dos homens, abdique das dimensões do espírito e estruture-se exclusivamente segundo as leis da dimensão material do homem, não poderá subsistir; as exigências do espírito, negadas ou reprimidas, cedo ou tarde, tornam-se a impor-se inexoravelmente.
Como já nos referimos antes, a ciência do político coincidia com o conhecimento supremo do Bem e das Idéias e, portanto, da filosofia.
Segundo Platão há dois modos de proceder na medida, que são dois critérios diversos. "Há a medida que tem como base a relação recíproca de grande -pequena, longo-curto, excesso-defeito, e é uma medida de caráter matemático. Há porém a medida segundo a essência que é necessária à geração" [17]. Ou seja, a medida que tem como base o justo meio ou a medida justa, a saber, as Idéias ou essências das coisas, e essa é uma medida que podemos chamar Axiológica, porque se refere a valores ideais (as qualidades) e não a puras quantidades. Este gênero de medida constitui, uma clara superação do pitagorismo, inteiramente análoga à que foi levada a cabo com relação ao eleatismo, com a introdução do "não-ser" como "diverso".
O justo meio para Platão, ou melhor dizendo, a justa medida, é oque colocará na administração da pólis a noção do que deve ser melhor oferecido para os cidadão, isto é, ela dará ao filósofo administrador o conhecimento capaz de evitar a injustiça e a corrupção, pois uma vez que o administrador, é um filósofo, que possui o instrumental da filosofia, este será guiado pela ética para o estabelecimento de valores que estarão dispostos da mesma maneira que as idéias em seu mundo, portanto estarão disposta segundo uma hierarquia de valores dos mais elevados decrescendo até os menos elevados que poderão orientar o melhor caminho para a realização plena da pólis e dos cidadãos.
Para se ter um conhecimento mais eficaz da justa medida que o administrador deve ter, O filósofo ateniense diz que a vida política é uma arte e ara então compreendemos melhor a vida política, demos compreender melhor do que se trata esta arte. Platão coloca para nós o exemplo da arte, pode ser dividida em duas partes: de um lado colocando todas as Artes que medem o número, o comprimento, a largura, a profundidade, a espessura, com respeito aos seus contrários; do outro as que realizam essas medidas na sua relação com a medida justa, com o conveniente, com o que é oportuno, com o que é dever-ser, e com tudo que tende ao justo meio, fugindo dos extremos.
A distinção aplicada, em geral, a todas as artes e de modo específico à arte do político, diremos que ela tem como objeto o justo meio, o dever, o oportuno, o conveniente nas esferas mais importantes da vida da Cidade.
A atividade do político distingue-se perfeitamente, desse modo, de uma série de atividades conexas com a política, mas que, na realidade, mostram-se subsidiárias e subordinadas a ela. Assim a retórica se distingue da política porque, enquanto a primeira é atividade de persuasão, a segunda é atividade que decide se é ou não conveniente persuadir (ou usar a força) e por isso é diversa, mas superior.
O raciocínio análogo existe para a Arte da guerra, que se ocupa em fazer e vencer a guerra, mas não em decidir se é ou não conveniente fazer a guerra de preferência a manter a paz, decisão que depende justamente a política e também a atividade dos juizes diversa da política e a ela subordinada, porque a primeira se limita a aplicar a lei, enquanto a atividade do político estabelece a lei.
Mas o político busca a medida justa ou o justo meio sobretudo na atuação de sua tarefa fundamental que é construir a unidade do Estado partindo de elementos heterogêneos mesmo opostos, dando-lhes uma única força e impondo-lhes um único selo. Com efeito, os homens podem ser divididos segundo dois temperamentos e duas virtudes opostas: de um lado os mansos e temperantes, de outro os audazes, valorosos e fortes.
O político deve justamente saber harmonizar esses temperamentos opostos como se compusesse uma tela e um tecido usando fios macios e duros. Ao tecer essa tela, ele fixará a parte divina do homem (a alma) com um "nó" divino e a parte animal (o corpo), como um "nó" humano. O nó divino é o conhecimento dos valores supremos, que amansa as almas audazes e torna sensatas as almas mansas e une as outras com relação ao belo e ao bom numa só opinião.
O nó humano, por sua vez consiste em fazer com que, por meio de matrimônios oportunamente combinados, as naturezas opostas se conjuguem, de modo que os temperamentos opostos venham a se equilibrar também do ponto de vista biológico.
Portanto, para Sócrates e Platão, não há distinção entre ética e política, porque é evidente a relação entre a ética e a ciência do Estado. E o homem para Platão só pode explicar-se moralmente se explicar-se politicamente.
Por fim, Platão quando se refere a justa medida, fala que ela domina as leis, revela seu fundamento de caráter "teológico" afirmando que, a medida de todas as coisas é Deus.
O poder político constitui a substância da própria Filosofia Platônica. Platão buscou desde cedo as causas da corrupção dos homens de governo, seus costumes e as leis. Percebeu assim que não só Atenas, mas todas as cidades sofriam em razão de maus governos. Com efeito, sentindo a necessidade de reformas, louvou a reta filosofia e constatou que somente à luz dela é possível esperar ver justa a política das cidades e justa a vida dos cidadãos.
As injustiças e desventuras humanas não conhecerão fim a não ser no dia em que verdadeiros e puros filósofos terão acesso ao poder, no dia em que por algum "dom de Deus", as classes dirigentes nas várias cidades sejam inflamadas pelo verdadeiro amor da sapiência, e sejam formados por filósofos. Era o objetivo desejado por Platão.
O novo Estado Platônico tem seu instrumento na Filosofia, porque ela representa o único caminho seguro de acesso aos valores de justiça e de bem, fundamento verdadeiro de toda política autêntica e, portanto, do verdadeiro Estado.
No Estado idealizado por Platão, torna-se de máxima importância a seleção de jovens dotados de autêntica natureza filosófica (isto é, de jovens nos quais a parte racional da alma domina sobre as outras duas) e a sua educação. Podemos dizer que a paideia ginástico-musical produz os efeitos do Bem, mas não o conhecimento do Bem. É esta, portanto, a meta da educação filosófica: "alcançar o máximo", a posse do Bem em sina ordem do conhecimento. Para chegar a este conhecimento, requer-se longo tempo para percorrer o caminho do sensível ao supra-sensível, do corruptível ao incorruptível, do devir ao ser. O trecho mais longo e árduo deste caminho é constituído pela dialética, com a qual a alma atinge o puro ser das Idéias, e, através deste, chega à visão do Bem, ao "conhecimento máximo".
De fato, o método e o conteúdo da paidéia dos governantes e dirigentes do Estado são exatamente o método e o conteúdo da filosofia platônica. Todos os outros meios de conhecimento e ciências serão "aplicados" de acordo com cada classe para a melhor educação e ordenamento dos membros do Estado.
Platão sabia que todo ensinamento e educação deve ser proposto, não imposto, pois na alma não poderá existir nenhum ensinamento forçado. Porque para ele os meninos não deveriam ser educados com a violência, mas com os jogos. A prova maior da aptidão ou inaptidão de um jovem à dialética se dava deste modo: quem sabe ver o conjunto é dialético, quem não sabe, não o é. Esta é sua natureza, ver o todo, o conjunto inteiro[18].
Somente aos 50 anos, depois de ter passado por todas as provas na educação dialética e empírica é que termina, segundo Platão, a paidéia dos governantes: depois disto o papel era se dedicar à filosofia a maior parte do tempo, assumir o governo para o bem da comunidade, pois é necessário, por último, formar continuamente outros cidadãos a seu exemplo para governar e Estado.
Quanto à educação das mulheres e homens, bem como dos guardiões e guerreiros, Platão não faz distinção, pois tendo dotes iguais, devem receber a mesma educação e exercer as mesmas funções no Estado. Isto também é válido para a classe dos governantes. A maior valorização no que diz respeito a mulher da Antigüidade foi feita por Platão.
No Estado não pode haver privilégio de classes, mas deve-se fazer com que as classes se proporcionem vantagens recíprocas segundo a sua capacidade. O supremo "poder político" na visão platônica torna-se, pois, o supremo e necessário "serviço" daquele que, tendo contemplado o Bem, o faz descer a realidade e, através da práxis política, o distribui aos outros.
A obra República pode estar na contribuição entre ética e política. Seu objetivo é a 'justiça' ou o 'Estado Ideal'? Do ponto de vista de Sócrates e Platão, não há distinção, a não ser por simples conveniência, entre moral e política. As leis do direito são as mesmas para as classes e para os indivíduos. Mas deve-se acrescentar que essas leis são, antes de tudo, leis de moral pessoal: assim se considera que a política está fundada sobre a ética, não a ética sobre a política.
O Estado Ideal para Platão é justamente como a ampliação da alma. Esse Estado platônico não é senão a imagem aumentada do homem: formar o verdadeiro Estado significa, para Platão, formar o verdadeiro homem. Isto é política platônica[19].
Para Karl Popper, em sua obra: A sociedade aberta e seus inimigos, o Estado Platônico seria, em suma, a negação da liberdade. Platão seria o inimigo da sociedade democrática e da democracia. Isto para salientar que a concepção de Estado Platônico, como afirma Popper, é qualificada como conservadora e reacionária, bem como acentuadamente totalitária. Contudo, pode-se dizer que em função das categorias próprias das ideologias políticas modernas atuais. Pois o discurso autêntico político de Platão, é sobretudo, Filosofia, metafísica e até escatologia do Estado. Embora alguns considerem ideologia. De fato, tais equívocos são relevantes no terreno da discussão filosófica, porém, o que Platão pretendeu foi conhecer e formar o Estado perfeito (Ideal) para conhecer e formar o homem perfeito.
Na República, Platão leva o Estado às últimas conseqüências: O Estado é a alma ampliada, e entre a alma e o Estado há uma correlação recíproca. A sede autêntica do verdadeiro Estado e da verdadeira política é justamente a alma.
Segundo Platão, o Estado nasce de nossa necessidade. Como as necessidades são múltiplas, cada pessoa necessita de muitos outros homens que atendam a essas necessidades. Tendo em vista a satisfação das necessidades essenciais da vida, tem igualmente necessidade de uma classe de guardiões e guerreiros. O Estado deve ter tudo que corresponde a sua formação e segurança. Os guardiões deve ser dotados de mansidão e de ousadia; devem ser fortes e ágeis no físico, irascíveis, valentes e amantes do saber na alma. Para estes é necessária uma educação muito apurada. A cultura (poesia e música) e a ginástica serão os instrumentos mais idôneos para educar o corpo e a alma do guardião.
O pensamento platônico reformula a paidéia helênica. A poesia da qual se alimentará a alma dos jovens no Estado perfeito deverá ser purificada de tudo quanto é moralmente indecente e indecoroso, e de tudo quanto é falso, sobretudo no que diz respeito às narrações em torno dos deuses. Tanto na questão da música quanto da ginástica deve, assim, ser em ritmos apropriados e simples para a música e apropriada e simples para a ginástica para não cair em nenhuma forma de excesso. Ela deve acompanhar a educação da alma, que voa pode tornar bom o corpo, mas não vice-versa. Toda educação deve, portanto, servir para produzir no homem acordo e harmonia perfeita. Dentre os guardiões haverá aqueles que deverão "obedecer" e aqueles que deverão "mandar". Estes últimos, são os dirigentes do Estado, pois mais que os outros amam a Cidade, ao longo da vida, realizando com zelo o que é útil e bom (estes são os filósofos verdadeiros, terceira classe...). Entretanto, é preciso ter em mente que em Platão a divisão de classe ainda não estava completa. As três classes sociais constituem abertura moderada. No fundamento das classes está a índole humana, cada classe com a índole que melhor corresponde com a sua.
À primeira classe, formada por camponeses, artesãos e comerciantes, é concedida a posse de bens e riquezas "moderadas". Aos defensores do Estado não será concedida nenhuma posse de bens e riquezas; terão habitação e mesa comuns, e receberão víveres da parte dos outros cidadãos como compensação pela sua atividade. Isto para a felicidade do Estado: entretanto não é só uma classe que deverá ser feliz no Estado perfeito já que, tendo equilibrada felicidade do Estado na sua integralidade, cada classe deve participar da felicidade somente na medida em que a sua natureza permite.
Os guardiães devem, como definiu Platão, vigiar quanto ao equilíbrio do Estado, para que na primeira classe não penetre nem demasiada riqueza nem demasiada pobreza, bem como para que o Estado não se torne demasiado grande nem demasiado pequeno. Isto tem em vista o cuidado quanto a índole e a natureza dos indivíduos para que correspondam as funções que exercem e que se proceda adequada à educação dos melhores jovens. Não se devem mudar com isso as leis que as regem, nem o ordenamento do Estado.
O Estado ideal é delineado, mostrando a natureza e o valor da justiça; para isto, Platão descreve as virtudes cardeais, isto é, além da justiça, a sapiência, a fortaleza e a temperança. O Estado perfeito deve possuir as quatro virtudes fundamentais. O Estado é sábio pela classe dos seus governantes. A fortaleza é a virtude própria sobretudo dos guerreiros e o Estado é forte pela classe dos seus guerreiros. O Estado temperante é aquele no qual os mais fracos estão de acordo com os mais fortes e os inferiores em plena harmonia com os superiores. Quanto a justiça, percebe-se quando cada cidadão e cada classe atende às próprias funções do melhor modo, então a vida do Estado se desenrola de maneira perfeita e temos exatamente o Estado justo.
Como foi dito anteriormente, o Estado não é senão a ampliação do homem e da sua alma. Deste modo Platão diz: "- Penso que diremos também, Glauco, que o homem é justo do mesmo modo que a cidade é justa" As três classes sociais do Estado deverão corresponder a três formas ou faculdades na alma: a racional, a irascível e a apetitiva. Caberá à parte racional mandar. Assim, Estado feliz é somente aquele que cumpre ordenadamente as suas funções segundo a justiça e as outras virtudes.
O princípio de que a classe dos guardiães do Estado deve ter todas as coisas em comum: além da habitação e da mesa, também as mulheres, os filhos, a criação e a educação da prole, era mesmo revolucionário para os padrões do sistema da época. Tanto no que tange ao papel da mulher como do homem, dentro e fora das funções do Estado. Para não dizer que a concepção de leis que regem o Estado platônico eram autoritária nos termos que se definem hoje em dia, penso que ao invés de autoritário como diz Karl Popper, era mais uma forma rigorosa e nova de um novo Estado como queria Platão.
No que se refere a família, posta também em comum, os guardiões de nada mais poderão dizer "é meu", porque tudo absolutamente será comum, à exceção do corpo. É nesta definição que pode-se perceber o "comunismo platônico". Assim define Platão: "- Ao contrário, no Estado em que o maior número de cidadãos, a respeito da mesma coisa e segundo o mesmo sentido diz justamente é "meu" e "não é meu", "não haverá legítimo governo? - Sim, ótimo" Levando-se em conta estas afirmações, é evidente que o "comunismo" platônico não se aplica ao "coletivismo moderno", seja em razões históricas ou teóricas.
Quanto as disposições teóricas, os guardiões da cidade platônica, estão mais na posição de uma burocracia coletivista. O motivo da proibição de toda posse individual, mesmo da posse de uma mulher, combina-se com o princípio da seleção racial no conduzir à teoria da comunidade de mulheres e filhos para os guerreiros. No fundo Platão visava a uma grande família, para unificar a Cidade, cortando pela raiz tudo o que fomenta os egoísmos humanos.
Convém, no entanto, admitir que Platão não tinha "bem claro" o conceito de homem como indivíduo singular, único e irrepetível, usando termos atuais. Acima deste conceito, valia para ele mais a raça que o indivíduo, mais a coletividade que o sujeito singular.
O Estado ideal descrito por Platão é uma "aristocracia" no sentido mais forte e significativo do termo, vale dizer um Estado guardado e governado pelos "melhores" por natureza e por educação, fundado sobre a virtude como valor supremo e caracterizado pela primazia, nos seus cidadãos, da parte racional da alma. O Estado ideal e o homem régio ou aristocrata que lhe corresponde são caracterizados pelo domínio inconstante da racionalidade, virtude e liberdade, estes são os chefes do Estado. E igualmente na classe dos guardiões-guerreiros, na medida em que regula a alma irascível nela produzindo a virtude e coragem, e na classe inferior na medida em que regula a alma concupiscível nela produzindo temperança. Esse é o Estado são e, como tal feliz.
A felicidade superior do homem que vive segundo a política do Estado perfeito, isto é, vive a vida filosófica. A felicidade não pode consistir senão na forma mais alta do prazer, que é o da parte racional da alma. É o prazer mais verdadeiro. A vida política neste Estado garante a felicidade no aquém como no além, na vida depois da morte, para sempre. Para Platão a "verdadeira política" é aquela que não nos salva apenas no tempo, mas no eterno e para o eterno.
A República platônica exprime fundamentalmente um ideal realizável (mesmo historicamente o Estado perfeito não existe) no interior do homem, vale dizer, na sua alma. Se o Estado perfeito não existe fora de nós, podemos, no entanto, construi-lo em nós mesmos, seguindo a política verdadeira no nosso íntimo. Para Jaeger: "a essência do Estado de Platão não está na estrutura externa - dado que possua uma - mas no seu núcleo metafísico, na idéia de realidade absoluta e de valor sobre o qual é construído. Não é possível realizar a república de Platão imitando a sua organização externa, mas somente cumprindo a lei do bem absoluto que constitui a sua alma"
É natural que, no Estado histórico, o cidadão que vive a política da cidade ideal, tone-se estranho e tanto mais estranho quanto mais a sua vida se conforma com a política ideal. É daqui que surge a idéia, em Platão, do cidadão das duas Cidades, a Terrestre e a Divina, portanto um dualismo.
- De Re Publica (Da República)
- De Legibus (Das leis)
- Laelius de Amicitia (Diálogo Sobre a Amizade)
- De Oratore
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- Tusculanae Quaestiones
- Cato Maior de Senectute
- De Legibus (Das leis)
- Laelius de Amicitia (Diálogo Sobre a Amizade)
- De Oratore
- De Officiis
- Tusculanae Quaestiones
- Cato Maior de Senectute
Virgílio:O célebre poeta romano Virgílio nasceu na cidade de Andes, próxima a Mântua, no dia 15 de outubro de 70 a.C., no seio de uma família rural, e foi batizado como Publius Vergilius Maro.
Através do matrimônio, o imortal poeta latino alcançou a segurança financeira necessária para estudar filosofia e retórica com os melhores professores, primeiro em Cremona, depois em Milão e posteriormente no grande centro intelectual, em Roma, cidade que lhe permitiu o convívio com as mais refinadas inteligências da época. Neste período ele se tornou protegido de Mecenas, travou amizade com Horácio e teve contato com o Imperador Augusto, recebendo dele todo estímulo para criar sua obra-prima, a Eneida.
Virgílio escreveu Bucólicas ou Éclogas, uma série de dez poemas que traduzem sua paixão pela produção pastoril de Teócrito de Siracusa, que viveu no século 3 a.C. Este livro foi elaborado aproximadamente entre 42 e 38 a.C. As quatro Geórgicas foram criadas em 29 a.C., para homenagear Mecenas, seu financiador, nas quais ele glorifica a Itália e enfoca educacionalmente aspectos como a lavoura, a avicultura e a apicultura; sua obra eterna, a Eneida, foi produzida logo depois.
Nas Geórgicas o poeta insere, em meio a um tratado sobre a agricultura, conotações políticas, pois elogiando a esfera rural ele exalta a vida campestre, realizando uma apologia do ideário defendido pelo Império, a quem convém honrar os camponeses e seus meios de sobrevivência. Esta obra apresenta traços que lembram Hesíodo e Lucrécio, autores admirados por Virgílio. Ao lado da Eneida, ela é vista pelos estudiosos como seu trabalho mais apurado no estilo literário.
Sua produção mais célebre, porém, é a Eneida, que lhe permitiu ser respeitado, ainda vivo, como o maior autor latino e a mais importante expressão poética romana. Ele subverteu, com seus versos poderosos e densos, a epopéia e a tragédia gregas. Sua imaginação não tem limites e os aspectos linguísticos são diversificados e preciosos, enquanto os temas religiosos e morais enfocados pelo autor são tão complexos que vêm desafiando a compreensão de estudiosos ao longo do tempo.
Embora se destaquem nesta obra os valores épicos, é impossível não perceber o tom de tristeza que permeia seus versos, enfatizando o eterno sentimento de perda que devasta a alma humana. A Eneida atendia naquele momento as necessidades de uma civilização que por dez anos estivera mergulhada em intensa agitação, e agora precisava se auto-afirmar.
Este clássico descreve a jornada do troiano Enéas, fugitivo da Guerra de Tróia, guiado pelos deuses até o território italiano, onde edifica a cidade de Roma. Trata-se, portanto, de uma elegia ao imperador Augusto, pois a obra confere aos romanos uma linha de antepassados essencialmente latinos, ao mesmo tempo em que destaca uma procedência divina.
Sua obra ficou incompleta, pois o poeta morreu antes de aperfeiçoá-la ainda mais; dizem que o autor exigiu, antes da morte, que seus textos fossem queimados, pois não queria que eles ficassem inacabados. Pouco antes de seu falecimento, ele apresentara parte de seu clássico à família do Imperador, em 23 a.C. Virgílio morreu justamente quando voltava da viagem de seus sonhos, pela Grécia, onde finalmente entrou em contato com a vida cultural helênica que tanto admirava. Ele morreu em Brindisi, no dia 21 de setembro de 19 a.C., e está enterrado em Nápoles.
Platão:
A,oral do homem platônico é uma moral sobretudo política. Este tipo de concepção de Platão se deu devido o fato de sua juventude ter sido marcada pelo Fenômeno conhecido como "polís", ou seja, o homem para Platão é o cidadão, que vive e participa da sociedade política.
Portanto a política sempre ocupar[a um lugar de destaque na vida do filósofo: "... passei por experiência comum a muitos e me decidi firmemente a uma coisa: apenas em condição de dispor da minha vontade, logo dedicar-me à vida política"
O contexto em que viveu Platão foi um contexto onde a corrupção, não somente na cidade de Atenas, mas em todas as cidades do mundo grego. Este tipo de corrupção a liado a uma injustiça crescente da vida política de Atenas, contribuíram para que Platão fomentasse dentro de si o desejo de propor uma nova forma e concepção política, onde a justa medida, governasse a vida de todos os cidadão da pólis.
O estopim para o caminho do amadurecimento político da filosofia de Platão, se deu sem dúvida nenhuma, após o episódio da morte de seu mestre Sócrates. Este fato coloca Platão diante de um dilema, se os governantes mataram aquele que era o mais justo, ou pelo menos aquele que possuía um diferencial significativa em relação aos outros cidadão, quem então poderá ser considerado um administrador dignos e que não seja corrupto?
Platão começa a pesquisar e observar as ações das pessoas no cenário político, evidenciando assim, todo o quadro de complexidade que envolve a administração da pólis.
O caminho que o filósofo encontra para mudança da concepção política de sua época, é a reformulação de todas as constituições e legislações que regiam a própria pólis. Desta maneira Platão não pretendia curar a doença da corrupção e da injustiça, através de medicações paliativas, mas pretendia solucionar o problema em sua origem, propondo uma nova base para todo o assentamento político que os novos governadores teriam de trabalhar.
O caminho que Platão colocará para um reta orientação da administração da pólis, através de um meio mais justo e que não exista a corrupção, é o caminho da filosofia, isto é, a filosofia possibilitará que o administrador público seja mais coerente com suas ações e possa se orientar por uma norma que o guie tranqüilamente pela tumultuada vida política.
Os únicos em condições para assumir o poder para Platão são os filósofos, pois estes, são os únicos capazes de entender e se guiar pela justa medida, desta maneira o que se coloca para o administrador acima de tudo é a sapiência, este munido dos recursos que a filosofia
A nova política platônica e o novo Estado deverão ter seu instrumento na filosofia, porque ela representa o único caminho seguro de acesso aos valores de justiça e de bem, que são o fundamento verdadeiro de toda política autêntica e, portanto, do verdadeiro Estado.
A teoria do Estado Platônico tem seguido ou o caminho utópico da descrição do Estado perfeito, ou aquele mais realista das maneiras e dos caminhos para melhorar a forma do Estado.
Platão por isso, em Górgias não hesita e põe na boca de Sócrates este desafio:- "Eu creio que estou entre os poucos atenienses, para não dizer o único, que tentam a verdadeira arte política, e o único entre os que agora vivem, que a exercita"
Platão estava convicto de que o Verdadeiro e o Bem contemplados devessem descer à realidade com o fim de torná-la melhor, devessem tornar-se politicamente efetiva.
Para ele, toda forma de política que pretenda ser autêntica deve ter em vista o bem do cidadão; mas, é preciso saber que o verdadeiro bem do homem é o Bem Espiritual. Enquanto o corpo é apenas seu casulo passageiro e fenomênico.
É nesta base que se diferencia a política verdadeira da falsa: a verdadeira política deve ter em vista o cuidado da alma (verdadeiro homem), enquanto a falsa tem em vista o corpo, o prazer do corpo e tudo que é relativo à dimensão "inautêntica do homem". E o meio para curar a alma não é senão a filosofia, e por conseqüência, a identificação com política e a filosofia. Isto no contexto platônico, de político e filósofo.
Esta concepção da dicotomia de corpo e alma se evidencia através de sua teoria do mundo das idéias, pois segundo ela o ideal perfeito esta num mundo inacessível, devido a limitação que matéria impõe, enquanto que neste mundo a imperfeito, somente serve de cárcere da alma. Desta maneira devemos buscar nos assemelhar ao máximo possível deste mundo de perfeição, que é mundo das idéias.
Esta ilustração serve a nós para entender o porque na concepção política de Platão o filósofo será o único em condições de administrar bem a cidade, pois esmo que ele seja limitado pela matéria, que é o seu corpo ele será conduzido pela filosofia a uma aproximação mais efetiva da idéia de justiça, podendo desta maneira tratar mais justamente os problemas de todos os cidadão proporcionado assim, uma vida mais digna a todos os que habitam a pólis.
Estado e a lei do Estado, constituía todo o paradigma de toda forma de vida do indivíduo, portanto o que era importante para o homem grego era ser um cidadão, pois somente nesta condição a sua virtude de homem será capaz de se manifestar, pois ser cidadão implica na participação da pólis, desde a tomada de decisões até a forma pela qual eram estabelecidas as leis que regiam a mesma. Portando a participação da pólis não era horizonte relativo, mas sim o horizonte absoluto da vida do homem.
Transferindo para a nossa atualidade o realismo político de Platão vai colocar em destaque a inversão de um idealismo traçado pelo filósofa ateniense, pois, é inegável de se descartar que diferentemente da concepção política platônica o indivíduo e o cidadão não é mais a mesma pessoa. Na Grécia o indivíduo somente tinha razão de ser, caso ele fosse um cidadão, pois desta maneira ele, se faria participante e integrante da vida da pólis, ao passo que o indivíduo de hoje, pode deixar de participar da vida política da cidade e não ser colocada para ele a questão da sua importância no processo político. O Estado renunciou há muito à apropriação das esferas da vida interior dos cidadãos que interessavam a Platão acima de tudo, deixando à consciência dos indivíduos a livre decisão nesses assuntos.
Pode-se percebem que o pensamento político não mudou pois ele requer para o seu dinamismo uma participação seja de qualquer tipo de esfera, agora o modo de como se dá a importância para o cidadão que existia na pólis grega e o indivíduo que existe na modernidade são impares e não se encontra caminhos de restaurar novamente esta mesma dignidade a que o homem tem direito, ou seja não se pode deixar de levar em consideração que a participação da vida da pólis era o que dava significada a vida do homem no coletivo, e hoje esta participação não coloca este mesmo significado ma vida do indivíduo moderno.
Já no âmbito da concepção histórica de Platão, este, estava condicionado em dois sentidos: pelos pressupostos do seu sistema e por determinada visão histórico – social - cultural do Estado, nenhuma nem outra podem repetir-se historicamente. Entretanto, Platão nos alertou quanto a verdade que hoje serve como advertência: uma política que, ao regular a vida em sociedade dos homens, abdique das dimensões do espírito e estruture-se exclusivamente segundo as leis da dimensão material do homem, não poderá subsistir; as exigências do espírito, negadas ou reprimidas, cedo ou tarde, tornam-se a impor-se inexoravelmente.
Como já nos referimos antes, a ciência do político coincidia com o conhecimento supremo do Bem e das Idéias e, portanto, da filosofia.
Segundo Platão há dois modos de proceder na medida, que são dois critérios diversos. "Há a medida que tem como base a relação recíproca de grande -pequena, longo-curto, excesso-defeito, e é uma medida de caráter matemático. Há porém a medida segundo a essência que é necessária à geração" [17]. Ou seja, a medida que tem como base o justo meio ou a medida justa, a saber, as Idéias ou essências das coisas, e essa é uma medida que podemos chamar Axiológica, porque se refere a valores ideais (as qualidades) e não a puras quantidades. Este gênero de medida constitui, uma clara superação do pitagorismo, inteiramente análoga à que foi levada a cabo com relação ao eleatismo, com a introdução do "não-ser" como "diverso".
O justo meio para Platão, ou melhor dizendo, a justa medida, é oque colocará na administração da pólis a noção do que deve ser melhor oferecido para os cidadão, isto é, ela dará ao filósofo administrador o conhecimento capaz de evitar a injustiça e a corrupção, pois uma vez que o administrador, é um filósofo, que possui o instrumental da filosofia, este será guiado pela ética para o estabelecimento de valores que estarão dispostos da mesma maneira que as idéias em seu mundo, portanto estarão disposta segundo uma hierarquia de valores dos mais elevados decrescendo até os menos elevados que poderão orientar o melhor caminho para a realização plena da pólis e dos cidadãos.
Para se ter um conhecimento mais eficaz da justa medida que o administrador deve ter, O filósofo ateniense diz que a vida política é uma arte e ara então compreendemos melhor a vida política, demos compreender melhor do que se trata esta arte. Platão coloca para nós o exemplo da arte, pode ser dividida em duas partes: de um lado colocando todas as Artes que medem o número, o comprimento, a largura, a profundidade, a espessura, com respeito aos seus contrários; do outro as que realizam essas medidas na sua relação com a medida justa, com o conveniente, com o que é oportuno, com o que é dever-ser, e com tudo que tende ao justo meio, fugindo dos extremos.
A distinção aplicada, em geral, a todas as artes e de modo específico à arte do político, diremos que ela tem como objeto o justo meio, o dever, o oportuno, o conveniente nas esferas mais importantes da vida da Cidade.
A atividade do político distingue-se perfeitamente, desse modo, de uma série de atividades conexas com a política, mas que, na realidade, mostram-se subsidiárias e subordinadas a ela. Assim a retórica se distingue da política porque, enquanto a primeira é atividade de persuasão, a segunda é atividade que decide se é ou não conveniente persuadir (ou usar a força) e por isso é diversa, mas superior.
O raciocínio análogo existe para a Arte da guerra, que se ocupa em fazer e vencer a guerra, mas não em decidir se é ou não conveniente fazer a guerra de preferência a manter a paz, decisão que depende justamente a política e também a atividade dos juizes diversa da política e a ela subordinada, porque a primeira se limita a aplicar a lei, enquanto a atividade do político estabelece a lei.
Mas o político busca a medida justa ou o justo meio sobretudo na atuação de sua tarefa fundamental que é construir a unidade do Estado partindo de elementos heterogêneos mesmo opostos, dando-lhes uma única força e impondo-lhes um único selo. Com efeito, os homens podem ser divididos segundo dois temperamentos e duas virtudes opostas: de um lado os mansos e temperantes, de outro os audazes, valorosos e fortes.
O político deve justamente saber harmonizar esses temperamentos opostos como se compusesse uma tela e um tecido usando fios macios e duros. Ao tecer essa tela, ele fixará a parte divina do homem (a alma) com um "nó" divino e a parte animal (o corpo), como um "nó" humano. O nó divino é o conhecimento dos valores supremos, que amansa as almas audazes e torna sensatas as almas mansas e une as outras com relação ao belo e ao bom numa só opinião.
O nó humano, por sua vez consiste em fazer com que, por meio de matrimônios oportunamente combinados, as naturezas opostas se conjuguem, de modo que os temperamentos opostos venham a se equilibrar também do ponto de vista biológico.
Portanto, para Sócrates e Platão, não há distinção entre ética e política, porque é evidente a relação entre a ética e a ciência do Estado. E o homem para Platão só pode explicar-se moralmente se explicar-se politicamente.
Por fim, Platão quando se refere a justa medida, fala que ela domina as leis, revela seu fundamento de caráter "teológico" afirmando que, a medida de todas as coisas é Deus.
O poder político constitui a substância da própria Filosofia Platônica. Platão buscou desde cedo as causas da corrupção dos homens de governo, seus costumes e as leis. Percebeu assim que não só Atenas, mas todas as cidades sofriam em razão de maus governos. Com efeito, sentindo a necessidade de reformas, louvou a reta filosofia e constatou que somente à luz dela é possível esperar ver justa a política das cidades e justa a vida dos cidadãos.
As injustiças e desventuras humanas não conhecerão fim a não ser no dia em que verdadeiros e puros filósofos terão acesso ao poder, no dia em que por algum "dom de Deus", as classes dirigentes nas várias cidades sejam inflamadas pelo verdadeiro amor da sapiência, e sejam formados por filósofos. Era o objetivo desejado por Platão.
O novo Estado Platônico tem seu instrumento na Filosofia, porque ela representa o único caminho seguro de acesso aos valores de justiça e de bem, fundamento verdadeiro de toda política autêntica e, portanto, do verdadeiro Estado.
No Estado idealizado por Platão, torna-se de máxima importância a seleção de jovens dotados de autêntica natureza filosófica (isto é, de jovens nos quais a parte racional da alma domina sobre as outras duas) e a sua educação. Podemos dizer que a paideia ginástico-musical produz os efeitos do Bem, mas não o conhecimento do Bem. É esta, portanto, a meta da educação filosófica: "alcançar o máximo", a posse do Bem em sina ordem do conhecimento. Para chegar a este conhecimento, requer-se longo tempo para percorrer o caminho do sensível ao supra-sensível, do corruptível ao incorruptível, do devir ao ser. O trecho mais longo e árduo deste caminho é constituído pela dialética, com a qual a alma atinge o puro ser das Idéias, e, através deste, chega à visão do Bem, ao "conhecimento máximo".
De fato, o método e o conteúdo da paidéia dos governantes e dirigentes do Estado são exatamente o método e o conteúdo da filosofia platônica. Todos os outros meios de conhecimento e ciências serão "aplicados" de acordo com cada classe para a melhor educação e ordenamento dos membros do Estado.
Platão sabia que todo ensinamento e educação deve ser proposto, não imposto, pois na alma não poderá existir nenhum ensinamento forçado. Porque para ele os meninos não deveriam ser educados com a violência, mas com os jogos. A prova maior da aptidão ou inaptidão de um jovem à dialética se dava deste modo: quem sabe ver o conjunto é dialético, quem não sabe, não o é. Esta é sua natureza, ver o todo, o conjunto inteiro[18].
Somente aos 50 anos, depois de ter passado por todas as provas na educação dialética e empírica é que termina, segundo Platão, a paidéia dos governantes: depois disto o papel era se dedicar à filosofia a maior parte do tempo, assumir o governo para o bem da comunidade, pois é necessário, por último, formar continuamente outros cidadãos a seu exemplo para governar e Estado.
Quanto à educação das mulheres e homens, bem como dos guardiões e guerreiros, Platão não faz distinção, pois tendo dotes iguais, devem receber a mesma educação e exercer as mesmas funções no Estado. Isto também é válido para a classe dos governantes. A maior valorização no que diz respeito a mulher da Antigüidade foi feita por Platão.
No Estado não pode haver privilégio de classes, mas deve-se fazer com que as classes se proporcionem vantagens recíprocas segundo a sua capacidade. O supremo "poder político" na visão platônica torna-se, pois, o supremo e necessário "serviço" daquele que, tendo contemplado o Bem, o faz descer a realidade e, através da práxis política, o distribui aos outros.
A obra República pode estar na contribuição entre ética e política. Seu objetivo é a 'justiça' ou o 'Estado Ideal'? Do ponto de vista de Sócrates e Platão, não há distinção, a não ser por simples conveniência, entre moral e política. As leis do direito são as mesmas para as classes e para os indivíduos. Mas deve-se acrescentar que essas leis são, antes de tudo, leis de moral pessoal: assim se considera que a política está fundada sobre a ética, não a ética sobre a política.
O Estado Ideal para Platão é justamente como a ampliação da alma. Esse Estado platônico não é senão a imagem aumentada do homem: formar o verdadeiro Estado significa, para Platão, formar o verdadeiro homem. Isto é política platônica[19].
Para Karl Popper, em sua obra: A sociedade aberta e seus inimigos, o Estado Platônico seria, em suma, a negação da liberdade. Platão seria o inimigo da sociedade democrática e da democracia. Isto para salientar que a concepção de Estado Platônico, como afirma Popper, é qualificada como conservadora e reacionária, bem como acentuadamente totalitária. Contudo, pode-se dizer que em função das categorias próprias das ideologias políticas modernas atuais. Pois o discurso autêntico político de Platão, é sobretudo, Filosofia, metafísica e até escatologia do Estado. Embora alguns considerem ideologia. De fato, tais equívocos são relevantes no terreno da discussão filosófica, porém, o que Platão pretendeu foi conhecer e formar o Estado perfeito (Ideal) para conhecer e formar o homem perfeito.
Na República, Platão leva o Estado às últimas conseqüências: O Estado é a alma ampliada, e entre a alma e o Estado há uma correlação recíproca. A sede autêntica do verdadeiro Estado e da verdadeira política é justamente a alma.
Segundo Platão, o Estado nasce de nossa necessidade. Como as necessidades são múltiplas, cada pessoa necessita de muitos outros homens que atendam a essas necessidades. Tendo em vista a satisfação das necessidades essenciais da vida, tem igualmente necessidade de uma classe de guardiões e guerreiros. O Estado deve ter tudo que corresponde a sua formação e segurança. Os guardiões deve ser dotados de mansidão e de ousadia; devem ser fortes e ágeis no físico, irascíveis, valentes e amantes do saber na alma. Para estes é necessária uma educação muito apurada. A cultura (poesia e música) e a ginástica serão os instrumentos mais idôneos para educar o corpo e a alma do guardião.
O pensamento platônico reformula a paidéia helênica. A poesia da qual se alimentará a alma dos jovens no Estado perfeito deverá ser purificada de tudo quanto é moralmente indecente e indecoroso, e de tudo quanto é falso, sobretudo no que diz respeito às narrações em torno dos deuses. Tanto na questão da música quanto da ginástica deve, assim, ser em ritmos apropriados e simples para a música e apropriada e simples para a ginástica para não cair em nenhuma forma de excesso. Ela deve acompanhar a educação da alma, que voa pode tornar bom o corpo, mas não vice-versa. Toda educação deve, portanto, servir para produzir no homem acordo e harmonia perfeita. Dentre os guardiões haverá aqueles que deverão "obedecer" e aqueles que deverão "mandar". Estes últimos, são os dirigentes do Estado, pois mais que os outros amam a Cidade, ao longo da vida, realizando com zelo o que é útil e bom (estes são os filósofos verdadeiros, terceira classe...). Entretanto, é preciso ter em mente que em Platão a divisão de classe ainda não estava completa. As três classes sociais constituem abertura moderada. No fundamento das classes está a índole humana, cada classe com a índole que melhor corresponde com a sua.
À primeira classe, formada por camponeses, artesãos e comerciantes, é concedida a posse de bens e riquezas "moderadas". Aos defensores do Estado não será concedida nenhuma posse de bens e riquezas; terão habitação e mesa comuns, e receberão víveres da parte dos outros cidadãos como compensação pela sua atividade. Isto para a felicidade do Estado: entretanto não é só uma classe que deverá ser feliz no Estado perfeito já que, tendo equilibrada felicidade do Estado na sua integralidade, cada classe deve participar da felicidade somente na medida em que a sua natureza permite.
Os guardiães devem, como definiu Platão, vigiar quanto ao equilíbrio do Estado, para que na primeira classe não penetre nem demasiada riqueza nem demasiada pobreza, bem como para que o Estado não se torne demasiado grande nem demasiado pequeno. Isto tem em vista o cuidado quanto a índole e a natureza dos indivíduos para que correspondam as funções que exercem e que se proceda adequada à educação dos melhores jovens. Não se devem mudar com isso as leis que as regem, nem o ordenamento do Estado.
O Estado ideal é delineado, mostrando a natureza e o valor da justiça; para isto, Platão descreve as virtudes cardeais, isto é, além da justiça, a sapiência, a fortaleza e a temperança. O Estado perfeito deve possuir as quatro virtudes fundamentais. O Estado é sábio pela classe dos seus governantes. A fortaleza é a virtude própria sobretudo dos guerreiros e o Estado é forte pela classe dos seus guerreiros. O Estado temperante é aquele no qual os mais fracos estão de acordo com os mais fortes e os inferiores em plena harmonia com os superiores. Quanto a justiça, percebe-se quando cada cidadão e cada classe atende às próprias funções do melhor modo, então a vida do Estado se desenrola de maneira perfeita e temos exatamente o Estado justo.
Como foi dito anteriormente, o Estado não é senão a ampliação do homem e da sua alma. Deste modo Platão diz: "- Penso que diremos também, Glauco, que o homem é justo do mesmo modo que a cidade é justa" As três classes sociais do Estado deverão corresponder a três formas ou faculdades na alma: a racional, a irascível e a apetitiva. Caberá à parte racional mandar. Assim, Estado feliz é somente aquele que cumpre ordenadamente as suas funções segundo a justiça e as outras virtudes.
O princípio de que a classe dos guardiães do Estado deve ter todas as coisas em comum: além da habitação e da mesa, também as mulheres, os filhos, a criação e a educação da prole, era mesmo revolucionário para os padrões do sistema da época. Tanto no que tange ao papel da mulher como do homem, dentro e fora das funções do Estado. Para não dizer que a concepção de leis que regem o Estado platônico eram autoritária nos termos que se definem hoje em dia, penso que ao invés de autoritário como diz Karl Popper, era mais uma forma rigorosa e nova de um novo Estado como queria Platão.
No que se refere a família, posta também em comum, os guardiões de nada mais poderão dizer "é meu", porque tudo absolutamente será comum, à exceção do corpo. É nesta definição que pode-se perceber o "comunismo platônico". Assim define Platão: "- Ao contrário, no Estado em que o maior número de cidadãos, a respeito da mesma coisa e segundo o mesmo sentido diz justamente é "meu" e "não é meu", "não haverá legítimo governo? - Sim, ótimo" Levando-se em conta estas afirmações, é evidente que o "comunismo" platônico não se aplica ao "coletivismo moderno", seja em razões históricas ou teóricas.
Quanto as disposições teóricas, os guardiões da cidade platônica, estão mais na posição de uma burocracia coletivista. O motivo da proibição de toda posse individual, mesmo da posse de uma mulher, combina-se com o princípio da seleção racial no conduzir à teoria da comunidade de mulheres e filhos para os guerreiros. No fundo Platão visava a uma grande família, para unificar a Cidade, cortando pela raiz tudo o que fomenta os egoísmos humanos.
Convém, no entanto, admitir que Platão não tinha "bem claro" o conceito de homem como indivíduo singular, único e irrepetível, usando termos atuais. Acima deste conceito, valia para ele mais a raça que o indivíduo, mais a coletividade que o sujeito singular.
O Estado ideal descrito por Platão é uma "aristocracia" no sentido mais forte e significativo do termo, vale dizer um Estado guardado e governado pelos "melhores" por natureza e por educação, fundado sobre a virtude como valor supremo e caracterizado pela primazia, nos seus cidadãos, da parte racional da alma. O Estado ideal e o homem régio ou aristocrata que lhe corresponde são caracterizados pelo domínio inconstante da racionalidade, virtude e liberdade, estes são os chefes do Estado. E igualmente na classe dos guardiões-guerreiros, na medida em que regula a alma irascível nela produzindo a virtude e coragem, e na classe inferior na medida em que regula a alma concupiscível nela produzindo temperança. Esse é o Estado são e, como tal feliz.
A felicidade superior do homem que vive segundo a política do Estado perfeito, isto é, vive a vida filosófica. A felicidade não pode consistir senão na forma mais alta do prazer, que é o da parte racional da alma. É o prazer mais verdadeiro. A vida política neste Estado garante a felicidade no aquém como no além, na vida depois da morte, para sempre. Para Platão a "verdadeira política" é aquela que não nos salva apenas no tempo, mas no eterno e para o eterno.
A República platônica exprime fundamentalmente um ideal realizável (mesmo historicamente o Estado perfeito não existe) no interior do homem, vale dizer, na sua alma. Se o Estado perfeito não existe fora de nós, podemos, no entanto, construi-lo em nós mesmos, seguindo a política verdadeira no nosso íntimo. Para Jaeger: "a essência do Estado de Platão não está na estrutura externa - dado que possua uma - mas no seu núcleo metafísico, na idéia de realidade absoluta e de valor sobre o qual é construído. Não é possível realizar a república de Platão imitando a sua organização externa, mas somente cumprindo a lei do bem absoluto que constitui a sua alma"
É natural que, no Estado histórico, o cidadão que vive a política da cidade ideal, tone-se estranho e tanto mais estranho quanto mais a sua vida se conforma com a política ideal. É daqui que surge a idéia, em Platão, do cidadão das duas Cidades, a Terrestre e a Divina, portanto um dualismo.
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